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BEM VINDO!

"O passado está além de qualquer mudança;



O presente está escorregando de nossas mãos;



mas o futuro é nosso, para moldá-lo ao nosso deseja.



Eis como faço novas todas as coisas."







Max Freedom Long







ALOHA!



quinta-feira, 22 de outubro de 2009

AUSÊNCIA DE MEDO


AUSÊNCIA DE MEDO
por Serge Kahili King
do texto original “Fearlessness”
Tradução de Luiz Carlos Jacobucci (Brasil)
.
.
Nascemos para não ter medo.
Não herdamos o medo de nossos ancestrais. O medo não é uma reação instintiva,
nem é necessária para a sobrevivência. Cautela, sim; reconhecimento de um
perigo em potencial, sim; mas não o medo. Devemos ser ensinados a como sentir
medo.
Me lembro quando era um garotinho vendo minha irmã mais nova caminhando
pelo corredor de nossa casa esmagando as aranhas da parede com sua mão. Eu
achava aquilo nojento, minha irmã achava aquilo divertido e minha mãe achava
aquilo horripilante. Ainda posso ouvir os gritos de minha mãe quando via minha
irmã, alegremente, diminuindo a população de aranhas; e me lembro da rapidez
como minha irmã mudou de atitude e de comportamento em relação às aranhas
após uma única sessão de treinamento intensivo de aranhas-são-horríveistenha-
medo-delas.
Em um minuto podemos não ter medo e no seguinte podemos aprender a ser
medrosos. Por enquanto vamos deixar de lado a questão se o medo tem algum
valor ou não. A questão aqui é se ele é inato ou é um comportamento adquirido.
Aqui está outro exemplo, oposto ao anterior. Em um dia ensolarado em uma
longa praia na África, quando o oceano parecia com um lago calmo, notei que
meus filhos de quatro e sete anos estavam se divertindo na água e meu filho de
três anos estava se divertindo na areia. Não havia nenhum problema com aquilo,
exceto que também notei como ele fugia rapidamente toda vez que uma ondinha
se aproximava a meio metro dele. Isto parecia ser uma tarefa para um “Pai”!
Peguei meu filho de três anos, conversei com ele calmamente e o carreguei
alguns passos em direção à água. Ele imediatamente tentou escapar de meus
braços mesmo que a água apenas atingisse meus tornozelos. Ele estava
nitidamente com medo; então parei, acalmei-o e dei mais alguns passos à frente.
Naturalmente, ele reagiu da mesma maneira. Muito devagar e delicadamente,
usando um método psicológico clássico de dessensibilização, fui capaz de
conseguir com que ele aceitasse entrar na água até cobrir os tornozelos, até a
cintura, até o peito e, finalmente, até mergulharmos rapidamente juntos. Depois
disso, o levei de volta à praia e o deixei desenvolver seu próprio relacionamento
com o oceano. Hoje, meu filho mais novo é um Mergulhador de Combate da
Marinha Americana.
Mais um exemplo para ilustrar o meu ponto. Ensino uma técnica de auto-ajuda
para modificação de comportamento chamada “Dynamind” e uma das coisas
para a qual ela é muito boa é a eliminação de fobias. Durante uma demonstração
em um seminário, chamei uma jovem mulher para o palco que disse ter medo de
água. Em seguida, apuramos esse medo e chegamos a um estado de pânico
paralisante quando ela se defrontava com uma piscina. Em uma apuração ainda
maior, chegamos à descoberta interessante que o pânico apenas ocorria quando a
piscina estava a menos de dois metros de distância, tinha mais que um metro de
largura e a cor da água era azul. Na verdade, independente do tamanho ou da
proximidade da piscina, o pânico desaparecia se a cor da água fosse verde.
No primeiro exemplo acima, minha irmã não tinha medo de aranhas até que foi
ensinada por nossa mãe a ter medo. Sua primeira reação a aranhas foi instintiva.
No segundo exemplo, meu filho tinha medo do oceano e não da água em si. Sei
disso porque o vi espalhando, alegremente, a água do banho por todo lado, em
inúmeras ocasiões. Não tenho idéia de qual evento o ensinou a ter medo – e ele
não se lembra – mas sua capacidade de se livrar do medo em um tempo tão curto
definitivamente indica um comportamento aprendido e não um comportamento
instintivo. E, no último exemplo, o fato de que tantas condições específicas
tenham que ser atendidas antes que o medo se instale, da mesma forma, é um
indicativo de um comportamento aprendido.
Este seria um bom momento para definir o que quero dizer com comportamento
“instintivo”, pois muitas pessoas o confundem com o comportamento
“automático”. O comportamento é automático quando você o aprende tão bem
que nunca mais precisa pensar nele. É basicamente uma resposta a um estímulo
como o cachorro de Pavlov salivando ao badalar de um sino. Para muitos, pedalar
uma bicicleta, usar talheres, reagir com medo a eventos específicos ou ter
sintomas de resfriado ao molhar os pés quando usa sapatos de passeio, mas não
com sandálias de praia, são exemplos comuns de um comportamento automático.
Esse comportamento tem uma ligação muito próxima com a experiência individual
e as expectativas culturais.
O comportamento instintivo, por outro lado, é comum a todos os humanos e não
depende de uma experiência individual ou cultura. A respiração é instintiva, a
respiração ritmada é aprendida. Comer é instintivo, a escolha de alimentos é
aprendida. O impulso para aquecer-se quando se resfria, resfriar-se quando se
aquece, procurar por segurança quando se sente inseguro ou ir em frente ou
repetir experiências prazerosas e afastar-se ou evitar experiências dolorosas ou
desagradáveis são todos parte do repertório humano dos comportamentos
instintivos.
Outra diferença importante é que os comportamentos aprendidos, automáticos ou
não, são possíveis de ser desaprendidos ou modificados muito rapidamente,
enquanto que os comportamentos instintivos podem apenas ser reprimidos,
ampliados ou redirecionados.
É um fato, sustentado por fartas pesquisas, experimentos e experiências, que os
medos podem ser desaprendidos, frequentemente com muito rapidez, sem
repressão, amplificação ou redirecionamento. Isto é suficiente para colocar os
medos na categoria dos comportamentos aprendidos.
Parte do mal-entendido sobre o medo vêm de antigos experimentos em que
bebês eram jogados para o ar e seus comportamentos eram observados. A reação
instintiva de procurar uma conexão com algo seguro era interpretada como sendo
uma expressão do medo. Na verdade, desde que você não os derrube, alguns
bebês acham imensamente divertido serem jogados para o alto.
“Desde que você não os derrube”. Isto traz à baila o assunto de como o medo é
aprendido pela primeira vez. Para que isso aconteça, três fatores vitais devem
estar presentes: a auto-dúvida, uma memória de dor e uma expectativa de dor.
A auto-dúvida é o fator mais importante, pois sem ela o medo não ocorre. A autodúvida
também é um comportamento aprendido, mesmo quando você ainda é um
feto. Basicamente, a auto-dúvida surge quando um indivíduo interpreta um
sentimento ou uma sensação como se tivesse perdido contato com sua fonte de
poder ou de amor. Até o ponto que esta interpretação é repetida com sensações e
sentimentos similares e se torna um comportamento aprendido e automático.
As memórias de algum tipo de dor estão presentes em todos, mas nem todos são
afetados por elas da mesma forma. O medo aparece - e mais tarde é aprendido –
quando a auto-dúvida está presente no momento em que ocorre uma experiência
dolorosa porque, devido à auto-dúvida, uma expectativa de dor surge diante de
qualquer estímulo que se assemelhe à dor original. Quando tinha cerca de sete
anos, eu estava brincando com alguns amigos e decidimos subir em uma árvore e
pular de um grande galho. Os outros garotos fizeram isso sem nenhum problema.
Eles não tinham auto-dúvida, pelo menos quanto a pular de árvores e, assim,
mesmo que tivessem se machucado no passado por terem escorregado de um
galho, eles não tinham a expectativa de dor ao fazerem isso novamente. Eu,
entretanto, tinha auto-dúvida suficiente e a memória de uma queda dolorosa
prévia não relacionada com árvores, que fiquei agarrado ao galho, congelado de
medo, por muito tempo. Os outros garotos simplesmente rastejaram ao meu
redor e pularam com alegria no coração. Finalmente, suprimi meu medo,
concentrei minha coragem e pulei para o desconhecido – aquela foi minha
primeira experiência de pular de um galho. Felizmente, fiz um bom pouso e foi
tão divertido que pulei muitas outras vezes, desaprendendo o meu medo nesse
processo.
Uma das últimas sentenças no parágrafo anterior me faz lembrar de outro aspecto
do medo que necessita de esclarecimento, o chamado “medo-do-desconhecido”.
Não existe tal coisa, pessoal. É sempre um medo do conhecido. Ou, então, um
medo de não conhecer. Se experimentamos algo realmente desconhecido, ou
ficamos curiosos ou vamos ignorá-lo. Neste caso, o medo apenas surge quando
uma nova experiência nos faz lembrar de uma experiência dolorosa anterior e
temos uma expectativa de outra experiência dolorosa porque não sabemos o que
fazer.
Aqui está a moral da estória. Não importa se temos auto-dúvida, memórias
dolorosas ou medo de qualquer coisa, seja o que for. Aprendemos como agir na
primeira vez e podemos nos ensinar como agir de maneira diferente. A autodúvida
pode ser apagada ao ensinarmos a nós mesmos – quantas vezes forem
necessárias – a confiar em nós mesmos e/ou em um poder superior. Confiar, não
que nada de ruim jamais irá acontecer, mas que, seja o que for que acontecer,
seremos capazes de enfrentar; e confiar que mais coisas boas do que ruins
acontecerão. O que fazemos e como pensamos no momento presente pode não
controlar o futuro, mas tem mais influência no futuro do que qualquer outra coisa.
Não há medo sem auto-dúvida. A auto-dúvida começa com uma decisão. E
também pode terminar com uma decisão.

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